terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Reflexão sobre o testemunho da professora doutora Maria Benedicta Pereira Bastos Monteiro, neta de Maria Lamas

Para Maria Lamas, era fundamental que “as mulheres não ficassem para trás”. Esta preocupação, associada a uma enorme tenacidade e à capacidade inventiva de reconfigurar a realidade e as circunstâncias, moldaram Maria Lamas como uma figura ímpar. À medida que a sua neta, a professora doutora Maria Benedicta Pereira Bastos Monteiro, desfiou a sua história, ocorreu-nos que apesar das inquietações que, ainda muito jovem, sentiu, Maria Lamas se poderia ter acomodado ao padrão de vida esperado. No entanto, circunstâncias adversas levaram-na e enveredar por caminhos considerados menos apropriados para uma mulher da classe média, tendo trabalhado como jornalista e tradutora. Este expediente, pouco comum, permitiu-lhe por um lado, “ganhar a vida”, para si e para as suas três filhas, e, por outro, proporcionou-lhe um ponto de observação e de ação privilegiado, focado nos ideais que haveria de assumir durante toda a vida. As mulheres não deveriam ficar para trás, nem os seus filhos, nem a humanidade em geral. De forma aberta ou sub-reptícia, ouviu as mulheres e deu-lhes pistas para que alargassem os seus horizontes, procurando contribuir para a sua educação. Deste modo, criou jornais, nomeadamente para crianças. No campo da ficção, dirigiu-se também aos mais jovens e aos adultos. Aos 42 anos publicou o romance “Para além do amor”, em nome próprio, tomando a difícil decisão de expor publicamente a sua identidade. É nesta obra que reitera o seu propósito de vida, através do lema “sempre mais alto”. Aventurou-se em grandes sínteses como a “Mitologia Geral” ou em longas reportagens etnográficas e sociológicas como “Mulheres do meu país”, a sua maior obra. Este documento, que compila 24 fascículos mensais, foi escrito após a demissão de o jornal “O Século”, aos 53 anos, depois de 20 anos de direção, na sequência da proibição, pelo Estado Novo, do “Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas”, a que pertencia e que se recusou a abandonar. Muitos dos seus escritos, de diversos géneros, espelham pois a sua experiência de vida ou a de outras mulheres, ou relatam até o modo de convivência que deveria existir entre crianças de diferentes estratos sociais, procurando estender a ponte entre a realidade do seu tempo e uma nova era, de progresso, harmonia e liberdade. Considerada pela família como “uma mulher que só fazia o que queria”, inspirou nos seus membros sentimentos contraditórios, desde a discórdia, junto dos mais conservadores, até à adesão à mesma luta. Ao longo do tempo, o seu caráter ter-se-á depurado, reduzindo-se às suas caraterísticas essenciais, através do filtro de sucessivas prisões e do exílio. Em França apoiou os emigrantes e os desertores da guerra colonial e desempenhou um “papel suave”, de acompanhamento, junto de mulheres que viviam sozinhas. Sem lar seu, repartiu-se entre Paris e as casas das filhas, transportando todos os bens numa mala de viagem. Em Maio de 68, dobrados os 70 anos, ousou observar a revolução nos locais de maior violência, para grande admiração dos que a acompanhavam. Dado o reconhecimento do valor do seu exemplo e obra, foram-lhe dirigidas diversas homenagens a nível nacional e internacional. A 25 de abril de 1974, para sua enorme alegria, acompanhou a Revolução dos Cravos.








segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Aula aberta com o Professor Jorge Abreu (27.01.2014)

O professor aposentado Jorge Abreu, formado em Arquitetura, lecionou na Escola Secundária de Maria Lamas, no Grupo de Artes. No âmbito das comemorações do nascimento de Maria Lamas, foi convidado a abordar esta figura junto de uma turma de Artes. Neste sentido, o professor começou por caraterizar o nosso país na fase da juventude da nossa patrona, a partir da difícil primeira metade do século XX até à fase de melhoria das condições de vida da população em geral, que viria a acontecer a partir dos anos 50. Centrou-se depois em Torres Novas, então vila, tocando áreas tão diversas como as habitações das camadas sociais predominantes; as  infraestruturas e a higiene; os transportes; o comércio; a população; o emprego; a assistência; a alimentação e a cultura. Todos estes temas foram enriquecidos e humanizados com toques da sua vivência pessoal, ao referir-se a assuntos como o alcoolismo e as tabernas; a dificuldade na obtenção de trabalho pelos trabalhadores rurais; a precariedade da assistência médica,  à qual se associavam as deficiências físicas, à nascença ou por acidentes, havendo à época muitos "aleijados" e mendigos. Como nota positiva, o professor Jorge Abreu referiu-se ao futebol; ao cinema e aos filmes mudos e "em partes";  ao papel do Cineclube e aos benefícios decorrentes da industrialização, da introdução da eletricidade, do saneamento e das novas técnicas de construção. Por fim, fez uma referência à casa onde viveu Maria Lamas,  evidenciando as janelas e a metáfora que a escritora lhes associou:


 A idade da mulher pode variar como varia a terra, o bairro e a categoria do prédio. Porém, ela é sempre a mesma mulher que «está à janela». Não em atitude de quem chegou momentaneamente, mas naquela posição tão característica que revela já um hábito transformado em segunda natureza: braços cruzados sobre o peitoril, busto repousado sobre os braços e a cabeça levemente inclinada para a frente, na curiosidade melancólica e estéril de tudo o que se passa na rua. Sim, ela, é sempre a mesma, tenha 18 anos, 30 ou 50. A mulher que está à janela só vê os muros das casas fronteiras. Na nossa rua, na casa ao lado, talvez no nosso prédio, há sempre uma mulher à janela. Mas o seu tempo já passou. Ela existe ainda, mas é como um fantasma de outras eras. (in O Século, 29 de Abril de 1947).





segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Conferência, já a 10 de janeiro

A conferência «Maria Lamas, precursora da literatura infantil em Portugal» será proferida pela escritora Alice Vieira cuja comunicação decorrerá em duas linhas:  uma seguindo a perspectiva enquanto autora de livros para crianças e jovens, outra pautada pelas memórias (pessoais/familiares) sobre Maria Lamas, sua prima e amiga.  
Nesta sessão contaremos também com a presença de Dora Batalim, especialista em livros e literatura  infantil cuja a esfera de interesses, trabalho e investigação se centra, precisamente, nas áreas da promoção da leitura, da pedagogia e da literatura para crianças; o olhar de Dora Batalim sobre as tendências atuais dos livros, das leituras e da literatura infantil no século XXI suscitará certamente o debate entre os participantes e as conferencistas.


«Maria Lamas, precursora da literatura infantil em Portugal»
Conferencistas: Alice Vieira e Dora Batalim
DATA: 10 de janeiro, sexta-feira HORA: 15.00 h
LOCAL: Biblioteca Municipal Gustavo Pinto Lopes, auditório (Torres Novas)

Uma das visitas à Exposição na BMGPL